quarta-feira, 17 de agosto de 2011

[FILME] A Montanha Sagrada de Alejandro Jodorowsky


Uma jornada, física e psicológica. "A Montanha Sagrada" é um pesadelo, no melhor sentido que "pesadelo" pode adjetivar alguma coisa. Logo no início do filme, a primeira sequência dá o tom de como quase todo o filme vai ser dali pra frente. O protogonista, apenas creditado como o Alquimista, é encontrado desacordado por um alguém sem membros, é levado para uma cidade, sobe numa grande torre e de lá sai com uma missão para uma nova jornada, encontrar a Montanha Sagrada com mais 8 pessoas selecionadas, retirar o deuses que lá habitam para se tornarem imortais. Um história de crescimento, porém sem iluminação ou epifania, só o crescimento agregado com a viagem até a chegada na montanha. "A Montanha Sagrada" se vale por seu belíssimo trabalho visual em perfeita harmonia com a música, nas 2 horas de filme são raros os momentos de silêncio. Retomando a idéia do pesadelo, a jornada do Alquimista é entrecortada por viagens visuais carregadas de simbologias religiosas (e anda lado-a-lado com a profanação das mesmas), folclore latino, ficção científica, psicodelismo, como um grande painel com muitas partes distintas dentro de um mesmo contexto. Essa inquietude do pesadelo visual é o que prende o espectador no filme, mesmo que não tão interessado na história em si, mas ávido por compreender a sucessão de fatos e imagens colocadas na tela. Muito interessante a bem colocada participação especial (não creditada) de Frank Zappa, como um arauto americano entre colunas clássicas. "Montanha" é um filme grande em suas proporções, que é necessária quando se tem uma forma tão peculiar de contar uma história como essa. Os animais, a enorme quantidade de figurantes, a violência visual, tudo é grande, porém bem amarrado com seus significados. Historicamente falando "A Montanha Sagrada" é adequada ao ano que foi lançado (1973), o fim da Guerra do Vietnã e do Yom Kippur, a crise do petróleo, as secas na Califórnia, o movimento hippie se minguava mais e mais (ainda sofrendo com o atentado da família Manson) junto com o Flower Power perdendo cada vez mais seu espaço. As coisas estavam chegando ao fim, pelo menos na ótica de curto-prazo, e essa urgência de que o "fim está próximo" é bem retratado nessa viagem de ácido com uma câmera na mão onde quando o objetivo é alcançado o próprio filme se dá conta de seu papel: imagens. São imagens, presas num plano sem esperanças onde toda a forma de subversão (pelo menos aos olhos da moral) é transformada em diversão. No final das contas, nós espectadores, não somos muito diferentes dos turistas com as câmeras na feira. Olhamos os soldados, acompanhamos as histórias, vemos as progressões dos personagens ao longo da jornada, a violência as vezes gratuita, os banhos de sangue e todas as transgressões que o filme propôs, mas ainda estamos aqui, presos no plano de espectadores. Enquanto eles, continuam presos como imagens.






André Mendes

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